A Motorola realizou um evento em São Paulo para revelar ao mundo mais um smartphone da era Google. O Moto G não impressiona por ter um processador poderoso, uma tela com definição absurdamente alta ou funcionalidades inovadoras, mas chamou a atenção por um fator muito importante: o preço.
Lançado no Brasil com preço sugerido de 649 reais, o Moto G promete ser um smartphone acessível sem comprometer a experiência de uso. Com processador quad-core de 1,2 GHz, tela de 4,5 polegadas com resolução de 1280×720 pixels, 1 GB de RAM e um Android livre de inutilidades, ele se posiciona como uma boa opção para quem não quer gastar muito.
Como o Moto G se comporta na prática? O desempenho é bom? A bateria dá conta do recado? O que a Motorola precisou deixar de lado para torná-lo mais barato que o irmão Moto X? A câmera tira boas fotos? Durante mais de uma semana, usei o Moto G como meu smartphone principal e nos próximos parágrafos você confere todos os detalhes.
O Moto G é visualmente muito parecido com o Moto X. As principais características de design do irmão maior também estão presentes no Moto G, incluindo a curvatura na traseira, um pequeno detalhe que faz o aparelho se adaptar melhor ao formato das mãos e melhora substancialmente a pegada. Combinado com a largura de apenas 65,9 mm, o aparelho ficou bem confortável de segurar.
Há algumas diferenças sutis em relação ao Moto X. O Moto G é mais espesso, a curvatura na traseira é menos acentuada, o peso é um pouquinho maior e a tampa traseira é removível, apesar deste detalhe ser mais estético que funcional: não há bateria removível ou entrada para cartão de memória, então você só terá acesso aos slots para os chips da operadora. Uma edição especial, chamada Colors Edition, inclui quatro capas coloridas.
A tampa traseira é encaixada firmemente no aparelho, o que causa boa impressão sobre a construção, mas dificulta a remoção, pelo menos nas primeiras tentativas. É necessário forçar a retirada a partir do pequeno buraco da porta Micro USB e, como há muitas travinhas na capa, talvez você tenha alguns dedos machucados ou unhas destruídas antes de conseguir pegar o jeito da coisa. De qualquer forma, não é algo que você fará constantemente.
Outro detalhe sobre a traseira é que a Motorola decidiu não colocar nenhuma textura: ela é totalmente lisa e virou um ímã de impressões digitais e suor das mãos. No fim do dia, o Moto G certamente ficará com sujeira visível, especialmente se você usar a tampa padrão, na cor preta, que parece ressaltar o problema. E nem adianta esfregar na camiseta, porque as manchas permanecerão visíveis. É bom arranjar um paninho úmido.
Assim como nos aparelhos mais recentes da Motorola, não há botões físicos na parte frontal: eles são exibidos pelo sistema, diretamente na tela de 4,5 polegadas. Também na frente, estão o alto-falante, o LED de notificações e uma câmera de 1,3 MP para chamadas em vídeo, que não surpreende pela qualidade.
Na lateral direita estão o controle de volume e o botão liga/desliga. Não há botão dedicado para a câmera. O conector Micro USB e o microfone ficam na parte inferior. Centralizada no topo está a entrada para fones de ouvido de 3,5 mm. A traseira abriga a lente da câmera de 5 MP, o flash LED e o alto-falante, que consegue emitir som alto e sem distorções.
Durante o evento de lançamento, a Motorola fez questão de destacar a qualidade da tela do Moto G. A empresa chegou a citar que o visor do Moto G possui tamanho, resolução e definição maiores que o display do iPhone 5s, um smartphone que custa mais que o triplo do preço. São 4,5 polegadas, 1280×720 pixels e 329 ppi, contra 4 polegadas, 1136×640 pixels e 326 ppi da tela Retina dos iPhones mais novos.
A verdade é que esses informações apenas revelam a densidade de pixels, não a qualidade da tela. Como vimos na tela decepcionante do Xperia Z1, não podemos opinar sobre um display apenas pelos números da ficha de especificações. Mas mesmo fazendo uma avaliação mais profunda, dá para dizer que a tela do Moto G é muito boa, ainda mais considerando seu preço: ninguém, apenas olhando a tela, apostaria que ela equipa um aparelho de 649 reais.
A tela do Moto G possui excelente definição, boa visualização sob a luz do sol e ótimas relações de brilho e contraste. Os pretos não são tão profundos quanto em uma tela AMOLED, mas são satisfatórios. E as cores também não são muito saturadas, mas aqui trata-se apenas de uma questão de gosto: ultimamente, tenho preferido as cores mais naturais do LCD em vez dos tons mais vibrantes (às vezes em excesso) do AMOLED.
O ângulo de visão é ótimo, apesar da Motorola não informar nos materiais de divulgação que o Moto G possui um painel IPS. Não há variações de cores notáveis ao inclinar o aparelho, um problema que inexplicavelmente existe em smartphones lançados no Brasil pelo triplo do preço. A proteção Gorilla Glass 3 é um bom adicional para um smartphone da categoria do Moto G.
Em relação ao RAZR D3, antecessor do Moto G que foi lançado no primeiro semestre do ano por um preço ligeiramente maior no Brasil (799 reais), não há nem comparação quanto a qualidade da tela: o segundo possui um visor significativamente superior.
Para um smartphone lançado por 649 reais, a Motorola foi bem generosa ao escolher os componentes do Moto G. Além da tela, que realmente impressiona para um aparelho dessa faixa de preço, o hardware está acima da média. O chip é um Snapdragon 400 com processador quad-core de 1,2 GHz e GPU Adreno 305. Há 1 GB de RAM.
Apesar dos números darem a entender o contrário, é válido notar que o processador do Moto G é mais humilde que do irmão mais caro: são quatro núcleos Cortex-A7, que fornecem menos desempenho e possuem foco em eficiência energética (e baixo custo), enquanto o Moto X possui dois poderosos núcleos Krait 300 de 1,7 GHz. O Krait 300, da Qualcomm, é baseado no Cortex-A15 e também é adotado pelo Snapdragon 600, que equipa o Galaxy S4.
Mas o fato do chip do Moto G ser mais simples não significa que o desempenho seja ruim. Muito pelo contrário: durante os dias em que usei o Moto G, senti um sistema bastante fluido e ágil, com aplicativos que carregaram rapidamente. Ele certamente agradará a maioria dos usuários. A GPU Adreno 305, apesar de ser não ser tão potente quanto a Adreno 320 do Moto X, não decepcionou: consegui rodar jogos como Real Racing 3, Dead Trigger 2 e Asphalt 8: Airborne com boa qualidade gráfica e taxa de frames satisfatória.
O limitador deve ficar por conta da RAM: com vários aplicativos sendo executados ao mesmo tempo, os engasgos característicos do Android aparecem. As animações começaram a dar travadinhas enquanto estava ouvindo música por streaming no Play Música, fazendo cache offline de feeds no Press e alternando entre Twitter, Facebook, Gmail e Chrome, com cinco ou seis abas abertas. No entanto, isto é algo pesado até mesmo para Androids mais caros.
O bom desempenho se refletiu nos resultados dos benchmarks, não muito atrás dos smartphones topo de linha, como o Galaxy S4.
Para referência, estes são os números obtidos pelos benchmarks no navegador padrão, Chrome:
Na caixa compacta do Moto G, a Motorola não envia nada além do essencial: tem manual de instruções, cabo USB, carregador de tomada de 850 mA que leva cerca de três horas para dar uma carga completa e fone de ouvido com microfone, que tem construção bem simples. Se você pretende ouvir músicas no smartphone, recomendo comprar outro fone.
O pecado fica por conta da falta de um slot para cartão de memória. Eu não questiono a ausência de uma entrada para microSD em aparelhos mais caros, que possuem 16 GB de armazenamento ou mais, mas os 8 GB do Moto G podem ser um grande problema para quem costuma guardar músicas ou jogos no smartphone. Como o sistema ocupa boa parte da memória interna, há apenas 5 GB disponíveis para o usuário.
Os compradores do Moto G ganham 50 GB de espaço adicional no Google Drive por dois anos, o que pode amenizar o problema da falta de espaço, mas a verdade é que, considerando a realidade das conexões que temos hoje, o armazenamento na nuvem não substitui o armazenamento local de arquivos.
A falta de uma opção para expandir o armazenamento faz sentido do ponto de vista do desempenho (cartões de memória geralmente são mais lentos que a memória interna) e também de mercado, afinal, a Motorola também vende uma edição mais cara do Moto G, com 16 GB de armazenamento interno e suporte a dois SIM cards, por R$ 799. Mesmo assim, esse detalhe certamente afastará um número relevante de compradores.
Câmera
Se o Moto G impressiona pela tela, pelo hardware e pelo desempenho, é na câmera que ele mostra ser um smartphone básico. As fotos tiradas pelo sensor de 5 MP não são horríveis, mas também não surpreendem.
Em situações com bastante luz natural, as fotos chegam a ser boas, apesar do nível de detalhes não ser melhor que em outros aparelhos da mesma faixa de preço; uma olhada rápida nas copas das árvores é suficiente para notar o problema. Em ambientes internos, as fotos já começam a piorar significativamente: há presença de ruído e granulação. Com pouca luz, esqueça: você até conseguirá fazer fotos minimamente interessantes de paisagens e objetos estáticos, mas nada além disso.
Abaixo você confere exemplos de fotos tiradas com o Moto G, sem nenhum tratamento. A primeira foto estava com o HDR ativado; a segunda demonstra bem a granulação em ambientes internos; e a quinta e sexta revelam a falta de nitidez. As imagens estão em resolução total (3,8 MP em proporção 16:9).
A Motorola colocou uma bateria de 2.070 mAh no Moto G, um pouco menor que a de 2.200 mAh do Moto X. Ela dá conta do recado: com quase duas horas de música por dia, meia hora de navegação em 3G e notificações ligadas o dia todo, sempre conseguia sair às 10h e chegar em casa às 21h com algo entre 35% e 60% de bateria, sem ativar o modo de economia de energia, o que é uma marca muito boa.
O aparelho obteve excelente desempenho nos nossos testes de bateria, que envolvem execução de arquivos multimídia, navegação na web, ligação telefônica e jogos.
Com uso intenso, o gasto de bateria foi de 55%, ou seja, em três horas, o nível de bateria caiu de 100% para 45%. Com uso moderado, o gasto foi de apenas 25%. Ele foi melhor que o RAZR D3 (67% e 40% em uso intenso e moderado, respectivamente) e Lumia 620 (74% e 44%) e muito superior ao Nexus 4 (81% e 57%). Foi um dos melhores resultados que tivemos desde que adotamos este método de teste de bateria.
O Moto G definitivamente não é o melhor smartphone que testei nesses quase dois anos no Tecnoblog, mas este certamente é o review mais positivo que já escrevi sobre um produto. A verdade é que, para a maioria das pessoas, preço é o primeiro fator a se considerar na hora de adquirir um novo smartphone. A Motorola conseguiu juntar bons componentes e um software otimizado e ao mesmo tempo cobrar um valor muito atraente.
A qualidade da tela do Moto G é algo que não se encontra em aparelhos dessa faixa de preço. O desempenho passa longe do sofrimento dos aparelhos Android de baixo custo. O Android puro é algo que atrai muitas pessoas, e a promessa de atualização para o KitKat no início de 2014 só melhora a situação. A bateria, um ponto que muitos aparelhos ainda pecam, consegue aguentar muito bem um dia inteiro de uso.
Atualmente, não há muitos concorrentes que chegam perto do Moto G. O RAZR D3, também da Motorola, pode ser encontrado por cerca de 600 reais no Brasil, mas tem tela e hardware inferior. O Nexus 4, que frequentemente figura em promoções por menos de 800 reais, possui processador mais poderoso e o dobro da RAM, mas peca na bateria e não possui uma pegada tão boa. O RAZR i tem bom acabamento e hoje está na mesma faixa de preço do Moto G, mas já sente o peso da idade.
Além disso, se formos considerar preços promocionais, precisamos lembrar que, como todo Android, o Moto G já começou a baixar de preço. O modelo de 8 GB com suporte a dois SIM cards, que possui preço sugerido de 699 reais, apareceu recentemente por 554 reais. Já o Moto G de 16 GB, com quatro capinhas coloridas e suporte a dois SIM cards, que foi lançado por 799 reais, surge em promoções esporádicas por menos de 700 reais. Em regra, as lojas online oferecem 10% de desconto para pagamento à vista.
Com preço bastante agressivo, o Moto G tem tudo para vender bem. Minha torcida é para que outros fabricantes corram atrás da Motorola e lancem mais aparelhos bons e baratos no país. Por enquanto, posso afirmar que o Moto G é, sem sombra de dúvidas, o smartphone com a melhor relação custo-benefício à venda hoje no Brasil.